terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Sete resoluções de Ano Novo para quem gosta de ler



Não basta começar a dieta e ir à academia. Em 2014, precisamos ler mais e melhor

DANILO VENTICINQUE

 31 de dezembro é dia de fazer promessas para o ano que vem - e de lembrar, com alguma vergonha, das promessas que não  conseguimos cumprir. Sedentários correm maratonas imaginárias. Comilões planejam dietas para a primeira segunda-feira do ano. Estressados prometem relaxar mais, embora as praias e estradas lotadas não ajudem. Todos se unem no exercício esperançoso de acreditar, ao menos por alguns dias, que 2014 será melhor.
Os apaixonados por livros não escapam dessa regra. Em 2014 leremos mais e melhor. Desbravaremos clássicos que nunca ousamos abrir e ainda teremos tempo para não perder os principais lançamentos. Ao menos é nisso que acreditamos hoje. Eu, ao menos, acredito. Divido com os leitores da coluna minha lista de promessas para o próximo ano. Para os que quiserem segui-las comigo e também para os que quiserem usá-la contra mim no fim de 2014, quando eu terei inevitavelmente fracassado. Aproveito para convidá-los para compartilhar  suas promessas literárias na caixa de comentários. Que ao menos algumas delas sejam cumpridas. E que em 2014 a leitura continue a nos dar prazer.
>> Outras colunas de Danilo Ventincinque
1. Ler todos os dias, sem falta
Num ano em que a Copa do Mundo se soma à nossa já grande lista de distrações, essa é uma promessa corajosa. A recompensa é proporcional ao esforço. Há quem simplesmente prometa ler mais. Há quem estabeleça uma quantidade mínima de livros para terminar no ano. São boas promessas, mas costumam falhar. Tornar a leitura um hábito diário é uma maneira de cumprir todas essas metas. Se você for seguir apenas uma resolução literária para 2014, que seja essa.
2. Espalhar mais livros
Não deixe sua estante lotar em 2014. Ajude a literatura a circular. Doe os livros que não pretende ler mais. Empreste livros para seus amigos, e não se incomode se eles não forem devolvidos logo. São raros os livros que temos tempo para reler. Se ao terminar de ler um livro você perceber que ele já cumpriu  sua missão, passe-o adiante. Ajude a leitura a se espalhar.
3. Conter o consumismo
Comprar livros é um vício quase tão prazeroso quanto ler. A maioria dos leitores que conheço costuma comprar mais livros do que é capaz de ler. O resultado são estantes abarrotadas, carteiras vazias e um vago sentimento de culpa. Resistir a todas as tentações é impossível. Continuaremos comprando livros em 2014. Mas não custa nada tentar conter os impulsos consumistas e lembrar que os livros precisam ser lidos. Não há diferença objetiva entre um livro parado na livraria e um livro parado na estante de casa.
4. Formar novos leitores
Podemos reclamar do governo, dos currículos escolares, da formação dos professores, dos preços dos livros e da falta de bibliotecas. Não faltam motivos para que a leitura não seja um hábito tão difundido no Brasil. Muito ainda precisa ser feito, mas os leitores podem ajudar. Em 2014, apresente os livros para alguém que ainda não tem o hábito de ler. Se cada leitor converter apenas um não-leitor por ano, em pouco tempo seremos um país de leitores.
5. Redescobrir o Brasil
O drible, de Sérgio Rodrigues, e Fim, de Fernanda Torres, foram paixões tardias para mim em 2013. Ao lado de outros lançamentos recentes, esses livros provam que a ficção brasileira contemporânea é boa e acessível o bastante para sair das panelinhas e conquistar um público maior. A literatura fantástica continua num excelente momento: autores como Eduardo Spohr, Raphael Draccon e Carolina Munhóz conquistaram um público fiel e devem continuar fazendo sucesso por muitos anos. Os livros infantojuvenis de autoras como Thalita Rebouças e Paula Pimenta continuam a vender centenas de milhares de cópias e cativar novos leitores. 2013 foi um ano excelente para a literatura brasileira. Que em 2014 os escritores brasileiros percam definitivamente a vergonha de vender, e que os leitores não tenham vergonha de comprar seus livros.
6. Conversar mais sobre livros

A leitura é um hábito solitário e silencioso, mas o silêncio e a solidão precisam ser interrompidos de vez em quando. Para quem está acostumado a guardar para si as alegrias da literatura e as divagações que os livros provocam, o próximo ano é uma chance de dividir essa paixão. Há outros leitores espalhados por aí. Descubra-os. Fale com eles. Cada conversa ajuda a reforçar o hábito da leitura, descobrir novos autores e compartilhar os livros que amamos.
7. Cumprir as promessas do ano passado

As melhores resoluções de Ano Novo são renováveis. Talvez você não tenha cumprido algum item da sua lista para 2013. Talvez tenha falhado em todos eles. Não importa. 2014 acolherá todas essas promessas – e mais outras, se estiver disposto a fazê-las. Nesse quesito, os leitores têm uma enorme vantagem sobre os comilões ou sedentários. O tempo é implacável: a cada ano que passa é mais difícil entrar em forma. Conosco, o efeito é o contrário. Os anos de leitura nos transformam em leitores melhores. Se você não conseguiu vencer aquele clássico da literatura este ano, estará mais preparado no ano que vem. Se não cumpriu suas metas de leitura, pode tentar novamente agora, com mais experiência. Quanto mais listas de resoluções de Ano Novo fazemos, maior é a chance de conseguirmos realizá-las. Jamais conseguiremos ler todos os livros que queremos, mas é um consolo saber que a cada ano estamos um pouco mais perto dessa meta inatingível. Não devemos deixar de acreditar em nossas promessas para 2014. O tempo está a nosso favor.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

ANO NOVO!!!

Fim de ano é a época de relembrar tudo de bom que passou, e comemorar o que conseguimos juntos com a certeza de um futuro ainda melhor. Agradecemos pela sua parceria e lhe desejamos muita felicidade, amor e paz. E que, nos próximos anos possamos escrever novos capítulos nesta história de sucesso e prosperidade. BOAS FESTAS, E UM FELIZ 2014 !

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Muito se pergunta o que eu devo fazer  para escrever bem as respostas ler e escrever diariamente a rotina é que te tornara  você um bom escritor

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

A carne, de Júlio Ribeiro

A obra A carne, de Júlio Ribeiro, é um romance naturalista publicado em 1888 que aborda temas até então ignorados pela literatura da época, como divórcio, amor livre e um novo papel para a mulher na sociedade. O lançamento de A Carne, em 1888, fez grande sucesso e causou escândalo entre as famílias paulistanas tradicionais. As jovens eram proibidas de ler a obra e muitos pediam segredo ao comprar.

O romance por muito tempo lhe figurou de obsceno, mas o livro é mais do que um mero escândalo sexual. Foi um dos livros mais discutidos e populares do país, e ainda hoje são vendidas edições antigas (porém mutiladas) da obra. A maior qualidade do romancista não está precisamente em sua ficção, mas em sua disposição para chocar uma sociedade moralmente hipócrita que veio por décadas lhe aprisionar à margem da grande Literatura.

A divergência de opiniões a respeito do romance tem fundamento. A temática naturalista de Júlio Ribeiro explicita manifestações de desejo sexual, sadismo, ninfomania, perversões, nudez e sexo. O olhar sobre o livro, enfim, sempre se dividiu entre a apreciação estética e o julgamento moral. Foram vários os vetos feitos ao livro, entre os quais o mais categórico partiu de Álvaro Lins que, em 1941, classificou a obra como "mediocridade intelectual". Manuel Bandeira lhe rendeu uma análise biográfica cercada de integridade moral, mas foi um dos poucos a lhe render glórias por sua posição didática e combativa.

Com uma personagem diferente, ativa com intensos desejos sexuais, Júlio Ribeiro foi alvo de infinitas ofensas e injúrias. Por causa de uma mulher "perigosa", quiçá, as outras denúncias de Júlio Ribeiro ficassem despercebidas ou os críticos não as queriam ver. A personagem principal Helena Matoso, mais conhecida pela alcunha de Lenita, sente fortes concupiscências. Para muitos críticos, esse intenso desejo, provocado pela carne, será considerado um “histerismo”, qualidade que advém de Magdá, a histérica personagem do romance de Aluísio Azevedo: O homem (1887). Muitos estudos tecem essa semelhança devido à irritabilidade ou ao nervosismo excessivo causado pela força da carne – do desejo sexual – em ambas. Para Magdá, seria certa a tese da histeria. Para Lenita, não.

A personagem Lenita chocou a sociedade do final do século XIX, causando-lhe incômodo, que ainda via a mulher como ser passivo, devendo ser sempre inferior aos homens. A Carne recebeu vários predicativos à época, a maioria depreciativos, por causa de cenas lúbricas. Ademais, o espanto se deu não só por causa do erotismo da trama, mas também por causa de uma mulher independente, rica e inteligente – mesmo que esta estivesse atrás da máscara do sexo apresentado no romance, sendo difícil sua aceitação para o mundo de então; essa mulher de vanguarda foi vista pela miopia enferma da sociedade cujas dimensões ultrapassavam o natural, e esta, querendo perenizar conceitos e tabus ultrapassados, deixou que os momentos eróticos e exóticos fossem o único ponto máximo do romance, encobrindo a importância da heroína ao contexto social brasileiro e mundial.

A cegueira da sociedade foi contaminada pelo tom “obsceno” do livro, e o mais importante foi esquecido: o surgimento de uma mulher independente, em todos os sentidos, mesmo que seja em romances. O livro era dissidente e, por isso, obteve alguns poucos panegíricos e muitas depreciações. Não houve parcimônia a Júlio Ribeiro. Ele foi um escritor que causou uma espécie de cissiparidade nos leitores: ao mesmo tempo em que desdenhavam o romance, liam-no em solipsismo. Todavia, mais tardar, as críticas de tom exageradamente leviano tão-somente ajudariam a promover a obra, pois, através dos julgamentos ferinos, A Carne foi ganhando mais e mais popularidade. Se não pelo seu “valor literário”, como julgavam e ainda julgam, pelo menos, pela polêmica que causou a obra, introduzindo aos leitores, mesmo sendo com suaves matizes, ideais progressistas que tanto defendia Júlio Ribeiro: modernização do Brasil, abolição da escravatura, a República, entre outros. Assim, até mesmo aqueles que repudiavam a obra, liam-na às escondidas, intencionando descobrir o proibido, querendo ter acesso ao que, socialmente, não era permitido.

Enredo

O livro conta a história da garota Lenita, cuja mãe morrera em seu nascimento e o pai educara-a ministrando-lhe instrução acima do comum. Lenita era uma garota especial, inteligente e cheia de vida. No entanto, aos 22 anos, após a morte de seu pai, tornou-se uma jovem extremamente sensível e teve sua saúde abalada. Com o intuito de sentir-se melhor, Lenita decide ir viver no interior de São Paulo, na fazenda do coronel Barbosa, velho que havia criado seu pai. Lá, conhece Manuel Barbosa, o filho do coronel. Manuel era um homem já maduro e exímio conhecedor das coisas da vida, vivia trancado no quarto com seus livros e periodicamente partia para longas caçadas; vivera por dez anos na Europa, onde se casara com uma francesa de quem separara-se há muito tempo. Lenita firmara uma sólida amizade com Manuel, que, aos poucos, vai se revelando uma tórrida paixão, no início, repelida por ambos, mas depois consolidada com fervor em nome do forte desejo da "carne".

O livro narra a ardente trajetória desse romance singular, marcado por encontros e desencontros, prazer e violência, desejo e sadismo, batalha entre mente e carne. A história caminha para um trágico desfecho a partir do momento em que Lenita, encontrando cartas de outras mulheres guardadas por Manuel, sente-se traída e resolve abandoná-lo; estando grávida de três meses, casa-se com outro homem. Manuel, não suportando tamanha traição, suicida-se, o que comprova o resultado final da batalha "mente versus carne". No início, triunfam os prazeres da carne, no trágico final, os desenganos da mente.

Comentários

Ronald de Carvalho lembra que o romance A Carne, não esteve à altura do seu talento. Ele contrabalança seus aspectos positivos e negativos:
"A Carne é um livro de exaltação, um hino dionisíaco ao prazer, ao gosto relativista, ao aproveitamento do momento que passa. Apesar do processo zolista, evidente que no arranjo das cenas, no exagero das paixões, na brutalidade das criaturas, e, até, num certo propósito de confundir o leitor ingênuo; apesar da grosseria da palavra e do gesto, notadamente violentos e estranhos, ásperos e pesados, há na Carne uma poesia instintiva, um penetrante perfume de selva exuberante e selvagem. É uma obra comprometida pelo tom geral e escandaloso e atrevido, mas onde, não se pode negar, sobressaem muitas qualidades apreciáveis e um forte lirismo."
Agripino Grieco retorna à linha do escândalo em sua análise sobre a evolução da ficção brasileira e a posição da obra de Júlio Ribeiro dentro da mesma:
"Com as patifarias de Lenita, esse professor da Paulicéia serviu pastilhas afrodisíacas aos estudantes ginasianos, embora depois lhes esfriasse o ânimo com as austeras lições de complicadíssima gramática. Pedagogo atacado de delírio erótico, Júlio Ribeiro pôs o seu casal frascário a vagar por entre as mais lindas paisagens, à maneira de um magarefe idílico, de um charcuteiro que amasse as árvores e as flores. Mas, examinando-se bem, haveria na publicação desse romance uma espécie de provocação aos puritanos da província que irritavam o evocador do padre Belchior de Pontes."
Na mesma linha concisa trabalha Antonio Soares Amora, que contrapões o tom polêmico do livro e seus deslizes estéticos:
"Desde o momento do seu aparecimento teve, A Carne, como não podia deixar de ser, o condão de despertar violentas críticas: é que o romance, intencionalmente naturalista, dedicado a Emilio Zola, vinha de consagrado mestre da língua; no entanto chocava, como ainda hoje choca, pela concepção materialista da vida, onde são falsos os caracteres, sobretudo Lenita, a protagonista, e má a tecedura gramatical. Boa no romance apenas a expressão literária, que é de um admirável escritor. Apesar de tudo o que evidentemente tem de mau o romance, enquanto romance, continua a despertar interesse de certo público, pelo que oferece, já no título, dos "segredos materialistas" da patologia sexual."
Bem mais cortante é a avaliação de Lúcia Miguel Pereira. Ela não ameniza os defeitos do livro e encontra nele qualidades mínimas. Lenita, em sua opinião, é a causa maior para o desarranjo estrutural da trama elaborada por Júlio Ribeiro:
"O caso de Júlio Ribeiro é típico. Filólogo e polemista de valor, autor de um romance histórico do mais desmarcado romantismo, com cenas à Eurico, deixou-se empolgar pelos famosos ‘estudos de temperamento’. E malgrado seu poder descritivo, só conseguiu compor um livro ridículo.
(...)
Lenita é tão inexistente, com seu corpo demasiadamente exigente, como as incorpóreas heroínas românticas. Como a maior parte das personagens do nosso naturalismo, foi uma romântica às avessas, isto é, construída, não segundo a observação, mas de acordo com fórmulas preestabelecidas, que prescreviam a substituição dos sentimentos pelos instintos."
A personagem mais famosa de Júlio Ribeiro também recebeu as agudas considerações de Silvio Romero. Ao comentar os livros naturalistas lançados em 1888, o eminente crítico chama a atenção para o papel da leitura na formação da personalidade difusa da amante de Barbosa:
"Lenita é uma preciosa de truz, uma pedantesca moça, a quem a leitura e o estudo desorientado não puderam sofrear os ímpetos da carne e que se prostituiu sofregamente com o primeiro que lhe apareceu e que lhe dava lições."

Casa de Pensão, de Aluísio de Azevedo


Análise da obra


A obra foi baseada num fato real: a Questão Capistrano, crime que sensibilizou o Rio de Janeiro em 1876/77, envolvendo dois estudantes, em situação muito próxima à da narração de Aluísio Azevedo. Neste livro, o autor estuda as influências da sociedade sobre o indivíduo sem qualquer idealização romântica, retratando rigorosamente a realidade social trazendo para a literatura um Brasil até então ignorada.

Autor fiel à tendência naturalista difundida pelo realismo, Aluísio Azevedo focaliza, nesta obra, problemas como preconceitos de classe, de raças, a miséria e as injustiças sociais. Descreve a vida nas pensões chamadas familiares, onde se hospedavam jovens que vinham do interior para estudar na capital. Diferente do romantismo, o naturalismo enfatiza o lado patológico do ser humano, as perversões dos desejos e o comporta-mento das pessoas influenciado pelo meio em que vivem.

Casa de Pensão é uma espécie de narrativa intermediária entre o romance de personagem (O Mulato) e o romance de espaço (O Cortiço). Como em O Mulato, todas as ações ainda estão vinculadas à trajetória do herói, nesse caso, Amâncio de Vasconcelos. Mas, como em O Cortiço, a conquista, ordenação e manutenção de um espaço é que impulsiona, motiva e ordena a ação. Espaço e personagem lutam, lado a lado, para evitar a degradação.

As teses naturalistas, especialmente o Determinismo, alicerçam a construção das personagens e das tramas.

Romance naturalista de 1884, em que o autor, de carreira diplomática bastante acidentada, move personagens que se coadunam perfeitamente com a análise dos críticos de que seus tipos são, via de regra, grosseiros, não se distinguem pela sutileza da compreensão, nem pela frescura dos sentimentos. São eixos de relações da estrutura da presente narrativa a Província - Maranhão, a Corte - Rio de Janeiro, a casa paterna e a casa de pensão.

Estilo

O naturalismo está plenamente representado em Casa de Pensão desde a abertura do romance, quando Amâncio aparece marcado fatalisticamente pela escola e pela família: uma e outra o encheram de revolta. Por causa de um castigo justo ou injusto, "todo o sentimento de justiça e da honra que Amâncio possuía, transformou-se em ódio sistemático pelos seus semelhantes...". O leite que o menino mamou na ama negra também está contagiado e irá marcá-lo. O médico dizia: "Esta mulher tem reuma no sangue e o menino pode vir a sofrer para o futuro."  Amâncio é uma cobaia, um campo de experimentação nas mãos do romancista. Nele o fisiológico é muito mais forte do que o psicológico. É o determinismo que vai acompanhar toda a carreira do personagem.

Está presente também na obra o sentido documental e experimental do romance naturalista, renunciando ao sentimentalismo e à evasão, procura construir tudo sobre a realidade. Como já mencionado, a estória do romance se baseia num caso real.

Linguagem

Uma técnica comum ao escritor naturalista é o abuso dos pormenores descritivo-narrativos de tal modo que a estória caminha devagar, lerda e até monótona. É a necessidade de ajuntar detalhes para se dar ao leitor uma impressão segura de que tudo é pura realidade. Essas minúcias se estendem a episódios, a personagens e a ambientes. Num episódio, por exemplo, há minúcias de tempo, local e personagens. E móveis de uma sala até os objetos mais miúdos.

Não se pode dizer que a linguagem do romance é regionalista; pelo contrário, o padrão da língua usada é geral e o torneio frasal, a estrutura morfo-sintática é completamente fiel aos padrões da velha gramática portuguesa.

Como Machado de Assis, Aluísio Azevedo também usa alguns recursos desconhecidos da língua portuguesa do Brasil, principalmente na língua oral. Assim, por exemplo, o caso da apossínclise (é uma posição especial do pronome oblíquo que não escutamos no Brasil, mas é comum até na língua popular de Portugal). São exemplos de apossínclise: "Há anos que me não encontro com o amigo." (Há anos que não me...) "Se me não engano, você está certo." Em Casa de Pensão essa posição pronominal é um hábito comum.

Foco narrativo

O autor escolheu o seu ponto-de-vista narrativo: a terceira pessoa do singular, um narrador onisciente e onipotente, fora do elenco dos personagens. Como um observador atento e minucioso dentro das próprias fórmulas apertadas do naturalismo. No caso deste romance, Aluísio Azevedo trabalhou muito servilmente sobre os fatos absolutamente reais.

Temática

Como em O Cortiço, Aluísio de Azevedo se torna excepcionalmente rico na criação de personagens coletivos: a casa de pensão, tão comum ainda hoje, no Brasil inteiro, tem vida, uma vida estudante, nas páginas do romance. Aluísio conhecia, de experiência própria, esse ambiente feito de tantos quartos e tantos inquilinos, tão numerosos e tão diferentes, nivelados pela mediocridade e em fácil decadência moral. O autor faz alguns retratos com evidentes traços caricaturais (a sua velha mania ou vocação para a caricatura...), mas fiéis e verdadeiros. Tudo se movimenta diante do leitor: a casa de pensão é um mundo diferente, gente e coisas tomam aspectos novos, as pessoas adquirem outros hábitos, informadas ou deformadas por essa vida comunitária tão promíscua. Aí se encontram e se desencontram, se amontoam e se separam tantos indivíduos transformados em tipos, conhecidos, às vezes, apenas pelo número do quarto. Em O Cortiço o meio social é mais baixo; na Casa de Pensão é médio.

Às doenças morais (promiscuidades, hipocrisia, desonestidades, sensualismos excitados e excitantes, ódios, baixos interesses, dinheiro...) se misturam também doenças físicas (o tuberculoso do quarto 7 que morre na casa de pensão, a loucura e histerismo de Nini...). Foi o que encontrou Amâncio na Casa de Pensão de Mme. Brizard. Fora para o Rio de Janeiro, para estudar. E, num ambiente como esse, quem seria capaz de estudar? É verdade que o rapaz já trazia a sua mentalidade burguesa do tempo: o que ele buscava não era uma profissão, mas apenas um diploma e um título de doutor. Ele, sendo rico, não precisaria da profissão, mas, por vaidade, de um status, de um anel no dedo e de um diploma na parede. Essa mania de doutor, doença que pegou no Brasil, já foi magistralmente caricaturada em deliciosa carta de Eça de Queirós ao nosso Eduardo Prado: "A nação inteira se doutorou. Do norte ao sul do Brasil, não há, não encontrei senão doutores! Doutores com toda a sorte de insígnias, em toda a sorte de funções!! Doutores com uma espada, comandando soldados; doutores com uma carteira, fundando bancos: doutores com uma sonda, capitaneando navios; doutores com uma apito, comandando a polícia; doutores com uma lira, soltando carnes; doutores com um prumo, construindo edifícios; doutores com balanças, ministrando drogas; doutores sem coisa alguma, governando o Estado! Todos doutores..." O próprio Aluísio de Azevedo abandonou a Província para buscar sucessos na Corte (Rio de Janeiro) e, certamente também, um título de doutor...

Personagens

Os personagens, sob nomes fictícios, escondem pessoas reais:

Amâncio da Silva Bastos e Vasconcelos - (João Capistrano da Silva) estudante, acusado de sedução. Foi absolvido.

Amélia ou Amelita - (Júlia Pereira) a moça seduzida, pivô da tragédia.

Mme. Brizard - (D. Júlia Clara Pereira, mãe da moça e do rapaz, assassino) é uma viúva, dona da casa de pensão: 

João Coqueiro - Janjão - (Antônio Alexandre Pereira, irmão da moça Júlia Pereira e assassino de João Capistrano. Foi também absolvido).

Dr. Teles de Moura - (Dr. Jansen de Castro Júnior) advogado da família da moça.

Enredo

Amâncio (Da Silva Bastos e Vasconcelos), rapaz rico e provinciano, abandona o Maranhão e segue de navio para o Rio de Janeiro (a Corte) a fim de se encaminhar nos estudos e na vida. É um provinciano que sonha com os deslumbramentos da Corte. Chega cheio de ilusões e vazio de propósitos de estudar... A mãe fica chorosa e o pai, indiferente, como sempre fora no trato meio distante com o filho. O rapaz tinha que se tornar um homem.

Amâncio começa morando em casa do sr. Campos, amigo do Pai, e, forçado, se matricula na Escola de Medicina. Ia começar agora uma vida livre para compensar o tempo em que viveu escravizado às imposições do pai e do professor, o implacável Pires.

Por convite de João Coqueiro, co-proprietário de uma casa de pensão, junto com a sua velhusca mulher Mme. Brizard, muda-se para lá. É tratado com as maiores preferências: os donos da pensão queriam aproveitar o máximo de seu dinheiro e ainda arranjar o seu casamento com Amélia, irmã de Coqueiro. Um sujo jogo de baixo interesses, sobretudo de dinheiro. Naquele ambiente, tudo concorreria para fazer explodir a super-sensualidade do maranhense.

"Ele, coitado, havia fatalmente de ser mau, covarde e traiçoeiro: Na ramificação de seu caráter e sensualidade era o galho único desenvolvido e enfolhado, porque de todos só esse podia crescer e medrar sem auxílios exteriores."

A casa de pensão era um amontoado de gente, em promiscuidade generalizada, apesar da hipócrita moralidade pregada pelo seu dono: havia miséria física e moral, clara e oculta. Com a chegada de Amâncio, a pensão passou a arapuca para prender nos seus laços o jovem, inesperto e rico estudante: pegar o seu dinheiro e casá-lo com a irmã do Coqueiro. Para alcançar o fim, todos os meios eram absolutamente lícitos. Amélia, principalmente quando da doença do rapaz, se desdobrou nos mais íntimos cuidados. Até que se tornou, disfarçadamente, sua amante. Sempre mantendo as aparências do maior respeito exigido dentro da pensão pelo João Coqueiro...

O pai de Amâncio morre no Maranhão. A mãe chama o filho. Ele pretendo voltar, logo que terminarem os seus exames de medicina. Era preciso que o filho voltasse para vê-la e ver os negócios que o pai deixara. Mas o rapaz está preso à casa de pensão e a Amélia: este o ameaça e só permite sua ida ao Maranhão, depois do casamento. Amâncio prepara sua viagem às escondidas. Mas, no dia do embarque, um oficial e justiça acompanhado de policiais o prende para apresentação à delegacia e prestação de depoimentos. Amâncio é acusado de sedutor da moça. João Coqueiro prepara tudo: o caso foi entregue ao famigerado e chicanista Dr. Teles de Moura. Aparecem duas testemunhas contra o rapaz. Começa o enredado processo: uma confusão de mentiras, de fingimentos, de maucaratismo contra o jovem rico e desfrutável para os interesses pecuniários de Mme. Brizard e marido. Há uma ressonância geral na imprensa e, na maioria, os estudantes se colocam ao lado de Amâncio. O senhor Campos prepara-se para ajudar o seu protegido, mas Coqueiro lhe faz chegar às mãos uma carta comprometedora que Amâncio escrevera à sua senhora, D. Hortênsia. E se coloca contra quem não soube respeitar nem a sua casa...

Três meses depois de iniciado o processo, Amâncio é absolvido. O rapaz é levado em triunfo para um almoço, no Hotel Paris.

"Amâncio passava de braço a braço, afagado, beijado, querido, como uma mulher famosa." Todo mundo olhava com curiosidade e admiração o estudante absolvido. E lhe atiravam flores, Ouviam-se vivas ao estudante e à Liberdade. Os músicos alemães tocaram a Marselhesa. Parecia um carnaval carioca.

Em outro plano, Coqueiro, sozinho, vendo e ouvindo tudo. A alma envenenada de raiva. Em casa o destampatório da mulher que o acusava de todo o fracasso. As testemunhas reclamavam o pagamento do seu depoimento. Um inferno dentro e fora dele. Chegaram cartas anônimas com as maiores ofensas. Um homem acuado...

Pegou, na gaveta, o revólver do pai. E pensou em se matar. Carregou a arma. Acertou o cano no ouvido. Não teve coragem. Debaixo da sua janela, gritavam injúrias pela sua covardia e mau caráter... No dia seguinte, de manhã, saiu sinistro. Foi ao Hotel Paris. Bateu no quarto II, onde se encontrava o estudante com a rapariga Jeanete. Esta abriu a porta. Amâncio dormia, depois da festa e da bebedeira, de barriga para cima. Coqueiro atirou a queima-roupa. Amâncio passa a mão no peito, abre os olhos, não vê mais ninguém. Ainda diz uma palavra: "mamãe" ... e morre.

Coqueiro foi agarrado por um policial, ao fugir. A cidade se enche de comentários. Muitos visitam o necrotério para ver o cadáver de Amâncio. Vendem-se retratos do morto. Um funeral grandioso com a presença de políticos, notícias e necrológicos nos jornais, a cidade toda abalada. A tragédia tomou conta de todos.

A opinião pública começa a flutuar, a mudar de posição: afinal, João Coqueiro tinha lavado a honra da irmã...

Quando D. Ângela, envelhecida e enlutada, chega ao Rio de Janeiro, se viu no meio da confusão, procurando o filho. Numa vitrine, ela descobriu o retrato do filho "na mesa do necrotério, com o tronco nu, o corpo em sangue. Uma legenda: "Amâncio de Vasconcelos, assassinado por João Coqueiro, no Hotel Paris...

Obra para vestibular!!

Literatura19/04/2013 | 09h49

Professora Cláudia Silveira destrincha "Helena", de Machado de Assis

 

 

 Prezado vestibulando,

Hoje vamos falar sobre um dos livros mais famosos da literatura brasileira: Helena, romance escrito por Machado de Assis e publicado em 1876. A história é simples e fácil de ser assimilada. Trata-se do amor, dito "impossível", entre um rapaz e uma moça que, em princípio, são irmãos, mas que depois descobrem não existir grau de parentesco entre eles.

Para ler a obra, sugiro que você vá "sem preconceito", ou seja, tem gente que torce o nariz quando ouve falar em Machado de Assis, diz que não entende nada e que a linguagem é difícil. Besteira! Aliás, santa ignorância! Quer aprender a escrever bem? Uma sugestão é ler esse escritor. A época é bem diferente da nossa, por isso, vale a pena ver como as pessoas se comportavam antigamente, como eram os costumes, a moral, as atitudes, como se dava a paixão entre os jovens, enfim, uma aula de curiosidade.

Eis um pequeno perfil da obra. Boa leitura!

Ficha TécnicaHelena, 1876
Autor: Machado de Assis (1839 - 1908)
Escola Literária: Romantismo
Gênero: Romance Urbano
Temática central: Amor impossível, sacrilégio

Local: Rio de Janeiro do século 19
Narração: 3ª pessoa, narrador onisciente

Personagens
Helena — A protagonista da história. É bonita, dócil, afável e inteligente. Tinha entre dezesseis e dezessete anos.
Estácio — Outro protagonista, o suposto irmão de Helena. Filho de família tradicional patriarcal, foi educado à maneira antiga. Tinha vinte e sete anos, era formado em matemática.
Conselheiro Vale — Pai de Estácio. Possuía uma fraqueza que deixava sua mulher doente: o adultério constante.

D. Úrsula — Irmã do Conselheiro, tia de Estácio. Tinha cinquenta e poucos anos, era solteira e vivera sempre com o irmão, cuja casa dirigia desde o falecimento da cunhada. Dr. Camargo — Médico e velho amigo da família.
Eugênia — Filha de Dr. Camargo, noiva de Estácio.

Padre Melchior — Conselheiro espiritual da família do Conselheiro.
Luís Mendonça — Melhor amigo de aula de Estácio.
Salvador — Pai legítimo de Helena.

O romance — sínteseHelena foi publicado originalmente sob a forma de folhetim, no jornal "O Globo", entre os anos de agosto e novembro de 1876. A obra possui 28 capítulos e seu enredo transcorre de maneira linear. O romance inicia com uma morte e termina com outra.

Após a morte do Conselheiro, dá-se início à abertura do seu testamento; nesse momento, toma-se conhecimento da existência de Helena. Helena vem morar com a nova família em Andaraí, ganha a simpatia dos moradores da casa; nasce a paixão entre Estácio e Helena; a verdade sobre Helena é descoberta; Helena morre.


O ciclo do romance é fechado, não só por iniciar e terminar com uma morte, mas também porque, com a morte de Helena, tudo volta ao estágio inicial, antes da abertura do testamento: Estácio é novamente filho único, possui a posse integral da fortuna deixada pelo pai e pode se casar com Eugênia, sua paixão da infância. A narraçãoA história é narrada em terceira pessoa, por um narrador onisciente.

A temáticaMachado de Assis utiliza em Helena um tema muito explorado pelos autores românticos da época: a obsessão pelo amor impossível e seu consequente sacrilégio, devido à obediência às leis morais e sociais.

Tempo e espaçoA história se passa entre os anos de 1850 e 1851, aproximadamente um ano de duração. O espaço em que se passa a ação é o Rio de Janeiro, em uma chácara na cidade de Andaraí.

Características do autor na obraJoaquim Maria Machado de Assis nasceu na cidade do Rio de Janeiro, em 21 de junho de 1839, no Morro do Livramento. Desde pequeno, sempre teve a saúde muito frágil: era gago, epilético, possuía problemas intestinais e na visão. Em 1897 é eleito presidente da Academia Brasileira de Letras, fundada no ano anterior.

Morre no dia 29 de setembro de 1908, no Rio de Janeiro. A carreira literária de Machado de Assis é marcada pela variedade de sua escritura: foi cronista, dramaturgo, jornalista,
poeta, novelista, romancista, crítico e ensaísta. Suas obras podem ser divididas em duas fases bem distintas: uma romântica e a outra, realista. Helena está inserida na fase romântica.

Em Helena, podemos encontrar os seguintes estilos do autor:

a) Análise psicológica das personagens.
b) O humor inglês (não é o humor escrachado, mas aquele humor sutil, irônico, pessimista, melancólico).
c) O homem aparece como um ser irremediavelmente corrompido e sem saída diante de forças que comandam seu destino.
d) A linguagem é muito trabalhada e culta.
e) Reflexão sobre a mesquinhez humana e a precariedade da sorte humana. f) O Rio de Janeiro como cenário da obra.
g) Os traços fortes das personagens femininas em suas obras.


obra importante para vestibular!!








 Ao criar um narrador que resolve contar sua vida depois de morto, Machado de Assis muda radicalmente o panorama da literatura brasileira, além de expor de forma irônica os privilégios da elite da época.

- Leia o resumo de Memórias Póstumas de Brás Cubas de Machado de Assis

Narrador
A narração é feita em primeira pessoa e postumamente, ou seja, o narrador se autointitula um defunto-autor – um morto que resolveu escrever suas memórias. Assim, temos toda uma vida contada por alguém que não pertence mais ao mundo terrestre. Com esse procedimento, o narrador consegue ficar além de nosso julgamento terreno e, desse modo, pode contar as memórias da forma como melhor lhe convém.

Foco Narrativo
Com a narração em primeira pessoa, a história é contada partindo de um relato do narrador-observador e protagonista, que conduz o leitor tendo em vista sua visão de mundo, seus sentimentos e o que pensa da vida. Dessa maneira, as memórias de Brás Cubas nos permitirão ter acesso aos bastidores da sociedade carioca do século XIX.

Tempo
A obra é apoiada em dois tempos. Um é o tempo psicológico, do autor além-túmulo, que, desse modo, pode contar sua vida de maneira arbitrária, com digressões e manipulando os fatos à revelia, sem seguir uma ordem temporal linear. A morte, por exemplo, é contada antes do nascimento e dos fatos da vida.

No tempo cronológico, os acontecimentos obedecem a uma ordem lógica: infância, adolescência, ida para Coimbra, volta ao Brasil e morte. A estranheza da obra começa pelo título, que sugere as memórias narradas por um defunto. O próprio narrador, no início do livro, ressalta sua condição: trata-se de um defunto-autor, e não de um autor defunto. Isso consiste em afirmar seus méritos não como os de um grande escritor que morreu, mas de um morto que é capaz de escrever.

O pacto de verossimilhança sofre um choque aqui, pois os leitores da época, acostumados com a linearidade das obras (início, meio e fim), veem-se obrigados a situar-se nessa incomum situação.

Não-realizações
Publicado em 1881, o livro aborda as experiências de um filho abastado da elite brasileira do século XIX, Brás Cubas. Começa pela sua morte, descreve a cena do enterro, dos delírios antes de morrer, até retornar a sua infância, quando a narrativa segue de forma mais ou menos linear – interrompida apenas por comentários digressivos do narrador.

O romance não apresenta grandes feitos, não há um acontecimento significativo que se realize por completo. A obra termina, nas palavras do narrador, com um capítulo só de negativas. Brás Cubas não se casa; não consegue concluir o emplasto, medicamento que imaginara criar para conquistar a glória na sociedade; acaba se tornando deputado, mas seu desempenho é medíocre; e não tem filhos.

A força da obra está justamente nessas não-realizações, nesses detalhes. Os leitores ficam sempre à espera do desenlace que a narrativa parece prometer. Ao fim, o que permanece é o vazio da existência do protagonista. É preciso ficar atento para a maneira como os fatos são narrados. Tudo está mediado pela posição de classe do narrador, por sua ideologia. Assim, esse romance poderia ser conceituado como a história dos caprichos da elite brasileira do século XIX e seus desdobramentos, contexto do qual Brás Cubas é, metonimicamente, um representante.

O que está em jogo é se esses caprichos vão ou não ser realizados. Alguns exemplos: a hesitação ao começar a obra pelo fim ou pelo começo; comparar suas memórias às sagradas escrituras; desqualificar o leitor: dar-lhe um piparote, chamá-lo de ébrio; e o próprio fato de escrever após a morte. Se Brás Cubas teve uma vida repleta de caprichos, em virtude de sua posição de classe, é natural que, ao escrever suas memórias, o livro se componha desse mesmo jeito.

O mais importante não é a realização ou não dessas veleidades, mas o direito de tê-las, que está reservado apenas a uns poucos da sociedade da época. Veja-se o exemplo de Dona Plácida e do negro Prudêncio. Ambos são personagens secundários e trabalham para os grandes. A primeira nasceu para uma vida de sofrimentos: “Chamamos-te para queimar os dedos nos tachos, os olhos na costura, comer mal, ou não comer, andar de um lado pro outro, na faina, adoecendo e sarando…”, descreve Brás. Além da vida de trabalhos e doenças e sem nenhum sabor, Dona Plácida serve ainda de álibi para que Brás e Virgília possam concretizar o amor adúltero numa casa alugada para isso.

Com Prudêncio, vê-se como a estrutura social se incorpora ao indivíduo. Ele fora escravo de Brás na infância e sofrera os espancamentos do senhor. Um dia, Brás Cubas o encontra, depois de alforriado, e o vê batendo num negro fugitivo. Depois de breve espanto, Brás pede para que pare com aquilo, no que é prontamente atendido por Prudêncio. O ex-escravo tinha passado a ser dono de escravo e, nessa condição, tratava outro ser humano como um animal. Sua única referência de como lidar com a situação era essa, afinal era o modo como ele próprio havia sido tratado anteriormente. Prudêncio não hesita, porém, em atender ao pedido do ex-dono, com o qual não tinha mais nenhum tipo de dívida nem obrigação a cumprir.

Os personagens da obra são basicamente representantes da elite brasileira do século XIX. Há, no entanto, figuras de menor expressão social, pertencentes à escravidão ou à classe média, que têm significado relevante nas relações sociais entre as classes. Assim, "Memórias Póstumas de Brás Cubas", além de seu enorme valor literário, funciona como instrumento de entendimento desse aspecto social de nossas classes, como se verá adiante nas caracterizações de Dona Plácida e do negro Prudêncio.

A sociedade da época se estruturava a partir de uma divisão nítida. Havia, de um lado, os donos de escravos, urbanos e rurais, que constituíam a classe mandante do país. Estão representados invariavelmente como políticos: ministros, senadores e deputados. De outro, a escravidão é a responsável direta pelo trabalho e pelo sustento da nação e, por assim dizer, das elites. No meio, há uma classe média formada por pequenos comerciantes, funcionários públicos e outros servidores, que são dependentes e agregados dos favores dos grandes privilegiados.

Comentário do professor
O prof. Roberto Juliano, do Cursinho da Poli, ressalta que "Memórias Póstumas de Brás Cubas" é uma obra que revolucionou o romance brasileiro. De cunho realista, mas sem ter as características da crítica agressiva de outros escritores do Realismo (como Eça de Queirós em Portugal), a força da obra de Machado de Assis está na crítica sutil e na grande inteligência do autor. Ao contrário do já citado escritor português Eça de Queirós, que batia de frente com a burguesia, em Memórias Póstumas a crítica é feita focando a burguesia por dentro, ou seja, o escritor parte de um ponto de vista mais psicológico. Através disso, consegue-se fazer um combate ao Romantismo em sua essência através de personagens verossímeis que cabe ao leitor julgar e colocando-se em reflexão, por exemplo, a questão da ociosidade burguesa.

Além disso, o prof. Roberto chama a atenção para o fato de que com esta obra Machado de Assis revolucionou o formato do romance através da subversão de padrões do Romantismo. Se no romance é de praxe escrever uma dedicatória, por exemplo, ele o faz a um verme; ao verme que o corroeu. Outro ponto que pode ser citado como exemplo é a quantidade de capítulos do livro. Se era comum ter cerca de trinta capítulos em um romance, Machado de Assis faz um livro que ultrapassa cem capítulos. Porém, alguns deles são extremamente curtos ou são vazios. O aluno deve, então, ficar atento a estes aspectos formais e em como se faz uma crítica social na obra, finaliza o prof. Roberto.



terça-feira, 29 de outubro de 2013

Leituraaaa

A leitura é a arma da língua.
(Prof. Rodrigues Carleial)


Amar a leitura é trocar horas de fastio por horas de inefável e
deliciosa campanhia.
John F. Kennedy.


Um homem não pode escrever se não gostar um pouco de ler.
Clement Marot

Escrever é habilidade adquirida.
Ben Bradlee

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

UVA - SOBRAL

RELAÇÃO DE OBRAS DE AUTORES INDICADOS
PARA  O PROCESSO SELETIVO 2014.4


1 Triste fim de Policarpo Quaresma, de Lima Barreto

2 Helena , de Machado de Assis

3 Casa de Pensão, de Aluísio Azevedo

4 A Carne, de Júlio Ribeiro

5 O Seminarista, de Bernardo Guimarães

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Ler para Crescer!!!


 



 Escrever é viajar
No bonde  da liberdade
Nos trilhos feitos de versos
Pela criatividade.
Olhando pela janela
Dos olhos da humanidade.

(Antonio Francisco)


A leitura  é um fonte inesgotável de prazer, mas por incrível que pareça, a quase
totalidade, não sente esta sede
(Carlos Drummond de Andrade)


A leitura engrandece a alma
(Voltaire)

A leitura nutre a inteligência
(Sêneca)




NAS ONDAS DA LEITURA

Que nossa educacação
Traga  sempre mais cultura
Mais ciências,mas esporte,
Mais arte  e literatura
Mais professor ensinando
E os alunos surfando
Sobre as ONDAS DA LEITURA!!!
Crispiniano Neto





terça-feira, 24 de setembro de 2013

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Os leitores e suas loucuras

Há quem acredite que ler livros é um sinal de inteligência. Discordo. A convivência diária comigo mesmo e as conversas com outros leitores me mostraram que somos tão atrapalhados, distraídos e imperfeitos quanto os não-leitores. Lemos não por superioridade nata, mas pelo desejo ingênuo (ou inconsciente) de tentar mitigar nossas falhas intelectuais. É um esforço divertido, mas de eficiência duvidosa. Sou uma prova viva disso. Já usei esta coluna para dizer as maiores obviedades, me contradizer e espalhar inúmeras bobagens. Errei as grafias de títulos de livros e nomes de autores. Chamei Franz Kafka de alemão – o coitado nasceu em Praga. Esqueci os créditos de tradução de um livro e tive de me desculpar, na caixa de comentários, com a própria tradutora. Graças à infinita tolerância da internet aos erros, essas bobagens foram corrigidas. Algumas desapareceram rapidamente; outras, vergonhosamente tarde. Que venham as próximas.  
Para quem ainda acredita que nós, leitores, merecemos crédito por nossa inteligência, Manual prático de bons modos em livrarias (Seoman, 232 páginas, R$ 32) é a prova definitiva do contrário. O livro é uma coletânea de textos publicados no blog homônimo, criado em 2011. Sua autora, a livreira Lilian Dorea, coleciona histórias engraçadas do cotidiano nas livrarias e relatos de conversas insólitas com fregueses. O resultado é um retrato bem-humorado de nossos piores momentos dentro de uma livraria, registrados por quem tem a paciência infinita necessária para nos atender. Depois de ler os relatos reunidos no livro, não me restaram dúvidas. A literatura é infinitamente vasta, mas nossa ignorância é ainda maior.
>> Mais colunas de Danilo Venticinque

Manual prático de bons modos em livrarias revela que somos incapazes de cumprir tarefas aparentemente simples, como reconhecer que uma livraria vende livros, que e-books não ficam em prateleiras e que o sujeito uniformizado com o crachá no meio da livraria é, sim, um vendedor.
Isso sem falar no nosso total despreparo para encontrar os livros que procuramos. É como se deixássemos o senso crítico na entrada da livraria e nos atirássemos numa série interminável de atitudes vexatórias. Desaprendemos a pedir "por favor" e a dizer "bom dia" aos livreiros. Procuramos Saramago nas prateleiras de literatura brasileira e Clarice Lispector nas de autoajuda – e ainda reclamamos quando eles não estão lá. As palavras e ideias se embaralham em nossas cabeças. Maquiavel vira o autor de O pequeno príncipe, Vade Mecum vira Mad Max e Herman Melville, de Moby Dick, vira o fundador da rede Starbucks. E há aqueles momentos em que, cegos pela nossa ânsia consumista, nos esquecemos de tudo sobre nosso objeto de desejo. Há quem chegue à livraria sabendo apenas a cor de sua capa do livro que quer comprar, ou uma palavra do título. E azar do livreiro se não conseguir encontrá-lo.
Atormentados pela convivência com esses leitores, alguns livreiros sucumbem e passam a agir como eles. A autora, impiedosa, não deixa de registrar esses momentos. Há o vendedor que confunde os romances de Agatha Christie com histórias de vampiros. Há a que mistura Ágape, do Padre Marcelo Rossi, com O Aleph, de Paulo Coelho. E outra que, incapaz de escrever o nome de Max Weber corretamente no sistema, tenta convencer o freguês de que um livro do autor não existe. (Há alguns anos, na seção de discos de uma grande livraria de São Paulo, perguntei ao vendedor sobre uma gravação do Requiem de Mozart. Ele respondeu, impassível, que Mozart não gravou nenhum rap. A história não tem nada a ver com o livro, mas tive de registrá-la aqui.) São falhas perdoáveis. Como escreve Lilian, "o delírio é contagioso". Todo livreiro é um leitor, antes de tudo, e está sujeito aos problemas cognitivos que nos acometem quando pisamos numa livraria.
Alguns leitores ou livreiros podem se identificar com as histórias e sentir vergonha de erros passados. Não importa. Lembre-se de que o senso comum é generoso com os leitores: conservaremos sempre nossa fama de inteligentes, apesar de todas as nossas bobagens. E podemos nos divertir com elas. É impossível ler o Manual prático de bons modos em livrarias sem rir dos leitores e de seus disparates. Para entrar no clima, não anote o título antes de procurá-lo numa livraria. Esqueça o nome da editora. Diga ao livreiro que você quer o livro daquela blogueira. Aquele com a capa meio cor-de-rosa.
 

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Sete dicas para ler mais (e melhor)


DANILO VENTICINQUE
Administrar o tempo de leitura é tão importante (e difícil) quanto controlar as finanças pessoais. Notamos os grandes gastos, mas é a soma dos pequenos desperdícios que nos leva à falência. De nada adianta passar uma tarde inteira lendo no fim de semana se, nos outros dias, deixamos de aproveitar preciosas horas que poderiam ser dedicadas à leitura. Para vencer as pilhas de livros não lidos, ou ao menos controlar seu crescimento, não basta ser um leitor ocasional. O hábito da leitura deve unir disciplina e prazer. 
Estou longe de ser um exemplo. Minha rotina de leitura sempre foi caótica. Há semanas em que leio milhares de páginas e outras em que eu não chego a cinquenta. Às vezes, vergonha suprema, passo um dia inteiro sem tocar num livro. Mas os deuses da leitura são piedosos, e aguardam pacientemente até que nós, envergonhados, retomemos o hábito interrompido – não sem sentir um pouco de inveja dos leitores disciplinados, que parecem nunca falhar.
>> Mais colunas de Danilo Venticinque
A leitora mais disciplinada que conheci foi a americana Nina Sankovitch. Após a morte de sua irmã mais velha, uma apaixonada pela literatura, Nina decidiu homenageá-la lendo um livro por dia, todos os dias, durante um ano. Para compartilhar seu feito com outros leitores, ela publicava resenhas diariamente num blog. Ao final do desafio, narrou sua experiência em O ano da leitura mágica (Leya, R$ 34,90, 232 páginas, tradução de Paulo Polzonoff), lançado no Brasil em 2011. Conversei com Nina duas vezes: uma durante o desafio e outra pouco depois do lançamento de seu livro. Nas duas ocasiões, ela compartilhou alguns de seus segredos para ser uma leitora tão dedicada. Suas dicas não transformarão um leitor preguiçoso numa máquina de devorar livros, mas servem para nos lembrar de que é possível (e muitas vezes fácil) dedicar mais tempo à leitura.
1) Tenha sempre um livro ao seu alcance
Para um leitor prevenido, qualquer momento de espera pode se transformar num momento de leitura. Os entusiastas do livro digital podem usar um tablet ou até mesmo um celular. Bons aplicativos de leitura, como o Kindle e o Kobo, atualizam as marcações de página em cada dispositivo e permitem que a leitura continue sem interrupções. Quem prefere os livros de papel pode reservar um espaço na bolsa ou mochila. Somando as páginas lidas nesses minutos ociosos, é possível ler livros inteiros.
2) Aceite um desafio
Há algo em comum entre a leitura e o esporte. Um bom atleta é movido a metas, criadas para manter uma busca constante pela melhor performance possível. O mesmo deveria valer para os leitores. Depois que o hábito da leitura se estabelece, a tentação de permanecer na zona de conforto é grande. Desafiar-se é uma maneira de manter a forma. Nem todos são capazes de ler um livro por dia, como Nina. Ler um livro por semana, porém, é um bom começo. Quem já faz isso pode aumentar o número para dois ou três. Estabelecer um prazo também ajuda a criar coragem para enfrentar obras longas ou difíceis. "Quero ler A montanha mágica" é um desejo para a vida inteira, que pode ou não ser concretizado. "Quero ler A montanha mágica até o fim do mês" é uma atitude completamente diferente diante do livro – e, talvez, da vida.
3) Marque um compromisso
Ler por obrigação pode ser divertido – desde que a obrigação parta do próprio leitor. Para vencer as distrações do cotidiano e a tentação de deixar os livros para depois, reserve algum tempo todos os dias para a leitura. Alguns preferem ler na cama antes de dormir. Outros se sentem mais dispostos pela manhã, antes de ir para o trabalho. O importante é respeitar o tempo dedicado à leitura e, se possível, tentar estendê-lo. Aos poucos, ler se tornará um prazer cotidiano e o leitor se sentirá ansioso para encontrar-se novamente com os livros, como quem espera por um encontro ou um bom jantar.
4) Elimine as distrações
Durante seu desafio de um ano, Nina deixou de usar as redes sociais e de assistir à televisão. Também passou a ler menos notícias, para concentrar-se nos livros. O prazer proporcionado pela leitura, segundo ela, superou qualquer perda causada por essas mudanças de hábito. "Ler um livro por dia não me impediu de ter uma vida", diz Nina. "Pelo contrário. Minha vida tornou-se melhor, mais rica e satisfatória."
5) Varie para não enjoar 
Um erro comum de quem embarca numa maratona de leitura é tentar ler vários livros do mesmo autor ou do mesmo gênero, sem intervalos. O esforço provoca cansaço mental e leva, invariavelmente, à desistência. Isso vale principalmente para os clássicos da literatura. Alguns livros levam tempo para ser digeridos. Uma forma de descansar sem abandonar a leitura é intercalar obras literárias difíceis com livros mais leves, desses que podemos encontrar em qualquer supermercado. A lista de 365 livros lidos por Nina em um ano inclui clássicos da literatura universal, como Tolstói, mas também biografias de atletas, best-sellers e romances de ficção científica. "Ler livros de gêneros diferentes ajuda a manter a sanidade e amplia nossa visão de mundo", afirma Nina.
6) Crie um diário de leituras
A memória humana é limitada. Para muitos de nós, uma maratona de leituras é uma sobrecarga cerebral. Escrever um pouco sobre cada livro que lemos torna as lembranças mais acessíveis. Gosto de anotar ao menos uma frase de cada livro que leio. Nina, com sua disciplina invejável, escrevia resenhas inteiras. A escrita serve não só para nos lembrar de nossas leituras, mas também para nos ajudar a entender melhor os livros que lemos. "Escrever sobre cada livro me ajudou a conhecê-los mais profundamente e tornou a experiência de leitura mais satisfatória", diz Nina.
7) Compartilhe suas experiências 
Por mais fascinantes que sejam os livros, às vezes nos esquecemos deles. Felizmente, não estamos sozinhos. A leitura é um hábito solitário, mas também pode ser vista como um passatempo coletivo. Leitores atraem outros leitores, e compartilhar nossas descobertas literárias com amigos é sempre um prazer. Conversar sobre livros é uma forma de reacender, em nós e em nossos interlocutores, a paixão pelos livros – e a disciplina para nos dedicarmos a mais um dia de leituras.
 

quarta-feira, 31 de julho de 2013



 

Os livros que fingimos ler

 Por que tantos leitores mentem sobre obras que não leram – e como desmascará-los

Inferno seria um exagero. Mas há um lugar no purgatório reservado para as pessoas que mentem sobre suas leituras. Muitos falam mal de quem compra mais livros do que consegue ler. Outros amaldiçoam quem larga uma obra pela metade. Ainda assim, há quem defenda essas atitudes e as considere naturais. Quanto a fingir ter lido um livro, todos os leitores com quem conversei concordam: trata-se de um pecado imperdoável. Já vi reputações ruírem e amizades azedarem por causa desse hábito.  
Bastam alguns meses de dedicação à leitura para que um bom leitor se dê conta de que nunca conseguirá ler todos os livros que deseja. A literatura é vasta, o tempo é finito e, para piorar, ainda temos de lidar com distrações como o amor, o trabalho e a família. Diante dessa injustiça, a maioria reage com resignação e trata de escolher bem cada livro, para não desperdiçar o escasso tempo de leitura. Mas há os que se rebelam contra a imensidão da literatura e decidam enfrentá-la com um passe de mágica. A mentira é, de longe, a forma mais eficiente de leitura dinâmica.
>> Mais colunas de Danilo Venticinque
Embora cada um tenha sua maneira peculiar de exagerar o conhecimento literário, alguns comportamentos se repetem. Podemos dividir os fingidores em duas grandes categorias. Há os mentirosos compulsivos, que se aproveitam da Wikipédia e de orelhas de livros para impressionar amigos com sua erudição instantânea. E há os mentirosos envergonhados, que se sentem compelidos a mentir sobre suas leituras apenas para não confessar ignorância diante de um interlocutor supostamente mais culto.
O mentiroso compulsivo pode ser reconhecido pelo tom enciclopédico de sua fala. Conversar com um deles é assistir a um desfile de nomes, datas e citações, com pouquíssimas impressões pessoais sobre a leitura. Sua ascensão é rápida, mas a queda pode ser dura: basta uma pergunta bem colocada para derrubar anos de falsas leituras. Sabendo disso, esses leitores estão preparados para responder às perguntas mais comuns sobre a obra e o autor. Contam, também, com sua capacidade para intimidar o interlocutor com todo seu conhecimento. Poucos ousam enfrentar um pedante bem preparado.
O mentiroso envergonhado é muito mais inocente. Mente apenas quando é pressionado. Numa conversa sobre livros, pode ser reconhecido pelo silêncio, pelos sorrisos e pelos meneios de cabeça. Faz gestos e exclamações de aprovação a cada menção a livros e autores que não conhece e, assim, aumenta seu repertório de livros não lidos. Poderia fazer perguntas e demonstrar interesse em saber mais sobre essas obras, mas prefere manter a pose de literato tímido. Alguns reforçam essa imagem ao usar o conhecimento enciclopédico para participar rapidamente da conversa, voltando em seguida ao silêncio dos sábios. Observe um deles em ação:  
– Isso me lembra aquela cena famosa da batalha de Waterloo em A cartuxa de Parma... – diz o pedante.
– Sim, do Stendhal! – emenda o envergonhado.
E pronto: esse fragmento de conhecimento literário é suficiente para que o envergonhado convença seu interlocutor de que leu A cartuxa de Parma. A vantagem desse método é que não foi necessário recorrer à mentira. Ele não disse que é um profundo conhecedor de Stendhal: apenas mencionou o nome do autor. E, convenhamos, não há nenhuma evidência de que o pedante tenha lido o livro. Eu não saberia dizer: confesso que também não o li, embora a nova edição esteja há alguns meses na minha estante.
Assim como o mentiroso compulsivo, o envergonhado raramente é desmascarado. Deve isso, em parte, ao bom senso de seus interlocutores. Se alguém se limita a balançar a cabeça em sinal de aprovação durante uma discussão animada sobre Ulysses, seria deselegante interromper a conversa para perguntar se ele já leu o livro. Até porque, numa conversa sobre Ulysses, o mais provável é que nenhum dos participantes o tenha lido – o que não os impede de continuar a discussão, para testar os limites de seu conhecimento enciclopédico. O acadêmico francês Pierre Bayard explorou esse tema brilhantemente em Como falar dos livros que não lemos. Eu poderia dizer mais a esse respeito, mas prefiro não fingir que li o livro de Bayard.
Por muitos anos, fui um mentiroso envergonhado. Precisaria dobrar o tamanho das minhas estantes para acomodar todas as obras que fingi ter lido. Com o tempo, aprendi a me divertir com minha própria ignorância e confessá-la sempre que possível. Mas não condeno os envergonhados que preferem manter a pose, e divirto-me sempre que vejo um deles em ação.
Minha relação com os mentirosos compulsivos é menos amistosa. Desmascará-los já foi um dos meus passatempos favoritos. A técnica mais óbvia, de tentar perceber imprecisões no que dizem sobre os livros, é a mais improdutiva. Exige muito conhecimento, e pode ser infrutífera contra um pedante bem preparado. Meu método favorito é outro: ignorar o que dizem sobre o conteúdo do livro e fazer perguntas sobre o ato da leitura. Quantas vezes você desistiu de ler Ulysses antes de conseguir ler o livro até o fim? Onde você estava quando terminou o último volume Em busca do tempo perdido, e como conseguiu encontrar tempo para ler a série? Que trecho de Guerra e paz mais te emocionou? Não há orelha de livro ou página na internet que ofereça respostas satisfatórias a essas perguntas. É divertido ver supostos conhecedores de Joyce, Proust e Tolstói gaguejarem diante de perguntas tão simples para qualquer um que tenha lido esses livros com prazer.
As tentativas de desmascarar pedantes renderam-me muitas risadas e alguns desafetos. Aos poucos, passei a me comportar melhor. Comecei a respeitar os mentirosos compulsivos ao me dar conta de que suas mentiras são, antes de tudo, demonstrações de amor à leitura. Há algo de tocante e quixotesco em suas tentativas de abraçar a imensidão da literatura, apesar de todas as limitações impostas pelo tempo e pela vida. Amar os livros que lemos não é o bastante. É preciso tomar posse de todas as grandes obras, mesmo as que nunca chegaremos a abrir.
 

sábado, 20 de julho de 2013

A Importância da Leitura

As tecnologias do mundo moderno fizeram com que as pessoas deixassem a leitura de livros de lado, o que resultou em jovens cada vez mais desinteressados pelos livros, possuindo vocabulários cada vez mais pobres.

A leitura é algo crucial para a aprendizagem do ser humano, pois é através dela que podemos enriquecer nosso vocabulário, obter conhecimento, dinamizar o raciocínio e a interpretação. Muitas pessoas dizem não ter paciência para ler um livro, no entanto isso acontece por falta de hábito, pois se a leitura fosse um hábito as pessoas saberiam apreciar uma boa obra literária, por exemplo.

Muitas coisas que aprendemos na escola são esquecidas com o tempo, pois não as praticamos. Através da leitura rotineira, tais conhecimentos se fixariam de forma a não serem esquecidos posteriormente. Dúvidas que temos ao escrever poderiam ser sanadas pelo hábito de ler; e talvez nem as teríamos, pois a leitura torna nosso conhecimento mais amplo e diversificado.

Durante a leitura descobrimos um mundo novo, cheio de coisas desconhecidas.
O hábito de ler deve ser estimulado na infância, para que o indivíduo aprenda desde pequeno que ler é algo importante e prazeroso, assim ele será um adulto culto, dinâmico e perspicaz. Saber ler e compreender o que os outros dizem nos difere dos animais irracionais, pois comer, beber e dormir até eles sabem; é a leitura, no entanto, que proporciona a capacidade de interpretação.
Toda escola, particular ou pública, deve fornecer uma educação de qualidade incentivando a leitura, pois dessa forma a população se torna mais informada e crítica.
Por Eliene Percilia

Mundo dos livros








 



 

Mundo dos Negócios



No mundo dos negócios existem 3 fatores que determinam seu sucesso 1 oque vai negociar 2 com quem vai negociar e quem você é.
Alessandro Henriques teixeira

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Mundo dos Negocios

 


No mundo dos negócios todos são pagos em duas moedas: dinheiro e experiência. Agarre a experiência primeiro, o dinheiro virá depois.
Harold Geneen


Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe.
Oscar Wilde

Tenho em mim todos os sonhos do mundo
Fernando Pessoa


Não existe nada de completamente errado no mundo, mesmo um relógio parado, consegue estar certo duas vezes por dia.
Paulo Coelho


O mundo é um lugar perigoso de se viver, não por causa daqueles que fazem o mal, mas sim por causa daqueles que observam e deixam o mal acontecer.
Albert Einstein



O mundo é de quem não sente. A condição essencial para se ser um homem prático é a ausência de sensibilidade.
Fernando Pessoa


As três coisas mais difíceis do mundo são: guardar um segredo, perdoar uma ofensa e aproveitar o tempo.
Benjamim Franklin

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Fuvest divulga lista de livros para o vestibular 2014

Fuvest, que seleciona estudantes para a Universidade de São Paulo (USP) e para a Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa, divulgou nesta quarta-feira a lista de livros obrigatórios para o vestibular 2014. Confira:
Viagens na minha terra, de Almeida Garrett;
Til, de José de Alencar;
Memórias de um sargento de milícias, de Manuel Antônio de Almeida;
Memórias póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis;
O cortiço, Aluísio Azevedo;
A cidade e as serras, de Eça de Queirós;
Vidas secas, de Graciliano Ramos;
Capitães da areia, de Jorge Amado;
Sentimento do mundo, de Carlos Drummond de Andrade
Como era previsto, não houve alteração em relação às obras cobradas no vestibular 2013 uma vez que a relação deve parmanecer inalterada até o vestibular 2015, conforme anunciado em janeiro de 2012 pela Fuvest e pela Comvest, que organiza o processo seletivo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

A leitura de um livro é muito mais rica que assistir a um grande filme
"Steven Spielberg"